A famosa Cracolândia, localizada no centro de São Paulo, praticamente desapareceu da Rua dos Protestantes — mas o problema está longe de ter sido resolvido. Após operações intensas contra o tráfico de drogas e um aumento na busca por tratamentos, os usuários sumiram do local tradicional, mas voltaram a aparecer em outras áreas da cidade.
Segundo a prefeitura, a ausência de usuários na Cracolândia é reflexo de ações integradas de segurança e saúde. A Secretaria Municipal de Saúde informou que houve um aumento significativo na procura por atendimento, chegando a 47 acolhimentos em um único dia no CAPS AD Redenção — número quase cinco vezes maior que a média habitual.
Outros fatores contribuíram para o esvaziamento, como a atuação de cães farejadores na região e operações contra o tráfico na Favela do Moinho, base importante para a distribuição de drogas. Prisões de líderes do tráfico e bloqueio do abastecimento de entorpecentes também ajudaram a desmobilizar o chamado “fluxo”.
Mas o desaparecimento do problema é ilusório. Relatos apontam que os dependentes químicos se espalharam para regiões como Santa Cecília, Minhocão, Campos Elísios e Alameda Nothmann. A Polícia Militar, inclusive, intensificou ações nessas áreas para evitar a formação de novas “minicracolândias”.
Especialistas e movimentos sociais, como o coletivo Craco Resiste, criticam a estratégia de dispersão sem investimento consistente em políticas de reabilitação e acolhimento. “É maquiagem urbana. Eles continuam à margem, só mudaram de endereço”, afirma um integrante do grupo.
O prefeito Ricardo Nunes nega que a Cracolândia tenha “acabado”, mas destaca que há mais de 29 mil vagas de acolhimento disponíveis e que o trabalho social e de saúde continua ativo.
Enquanto a cena de uso visível desaparece do centro, cresce o debate sobre o que de fato está sendo feito com a população vulnerável e como garantir que o problema não apenas mude de lugar — mas seja, de fato, enfrentado.
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